É talvez um dos dias mais tristes da minha vida, mas um dia que marca uma nova fase no jornal. A partir de amanhã, Paulo Narigão Reis, excelente jornalista e pessoa de grande dimensão pessoal e ética, assume a direcção. Só posso estar contente com a escolha que, da parte da administração, revela uma vontade efectiva de prosseguir um projecto que começou a ser construído há pouco mais de um ano e que, na minha opinião, não pode parar agora.
Saio com a convicção de que demos o melhor de nós próprios ao projecto, que estimulámos as pessoas para uma aventura em que não acreditavam ao princípio, que modernizámos o jornal, que lhe demos uma outra organização, que aumentámos as vendas, o que não acontecia há longos anos, e, sobretudo, que contribuímos para um acréscimo de notoriedade e capacidade de influência.
Mas tudo isso era o mais fácil. Por isso, sinto-me derrotado. Porque não conseguimos completar o projecto que tínhamos, por não termos editorialmente conseguido oferecer uma coerência global mais forte, por não termos conseguido ter a força suficiente para aumentar a circulação e as áreas de distribuição do jornal, por não termos cumprido algumas das promessas que fizemos à nossa equipa durante todos estes meses.
Sei que a minha equipa, com quem fui pouco complacente em tantos momentos, está desiludida com a minha saída. Esperava que tentasse continuar a remar contra as marés que nos aparecessem pelo caminho e que o nosso destino, como tantas vezes lhes disse, seria ganhar no fim. Abandonámos o barco antes da vitória, é justo que na despedida o abraço seja magoado.
Quando o Bruno Pires, um dos jornalistas mais frontais que conheço, entrou na minha sala e confessou que de mim esperava tudo menos a desistência, pensei que há momentos na vida onde não vale a pena encontrar desculpas. A partir de determinada altura “passeamos” pelo que fazemos como se andássemos por todos os destroços que deixámos para trás. Gostaria muito que a redacção, e todos os que aceitaram mergulhar de cabeça contra a lógica e a derrota antecipada, não desista de concretizar o sonho, que não desista de mostrar aos leitores o que de melhor têm por dentro.
Aprendi muito mais com a minha equipa do que o contrário. Todos juntos fizemos das fragilidades provas de força diária. Com apenas 40 jornalistas conseguimos fazer um jornal competitivo e com uma agenda própria. Com manchetes que foram importantes e agitaram o País, com uma identidade que estimulou discussões sobre a classe e as fronteiras do próprio jornalismo.
Quero agradecer à Fernanda Mira, grande chefe de redacção, por tudo. Nesse agradecimento abraçar cada um dos que arriscaram ficar sem vida própria em nome do respeito por si, caro leitor. Quero agradecer a cada uma das pessoas que aceitaram colaborar em A Capital, gente que muitos achavam ser uma aposta impossível. Mário Soares, António Mega Ferreira, Daniel Sampaio, Maria José Nogueira Pinto, Jacinto Lucas Pires, Gonçalo M. Tavares, Luísa Castelo Branco, Mário Cordeiro e José Luís Peixoto.
Quero agradecer aos meus companheiros de vida, gente a quem serei fiel até ao fim de todos os caminhos. Miguel Romão, Tiago Rodrigues, Luís Filipe Borges, Nuno Costa Santos e Maria Cristina Osório. Despedir-me do Vítor Manique, director comercial. E de todos os que com ele trabalham diariamente. Despedir-me do Pedro Fernandes, homem responsável pela renovação gráfica, e que se transformou em alguém que é nuclear no centro dos meus afectos.
Por fim, agradecer ao António Matos e à restante administração por terem confiado que poderia ser um bom director. Por muitas divergências que possa ter havido, por muitos recuos e amuos que a nossa relação tenha conhecido, fica um ano de trabalho em conjunto. Diferentes entendimentos são legítimos e não beliscam o essencial.
Ao terminar este texto, o último copo será com Rogério Rodrigues. Que me protegeu nos momentos difíceis, que foi uma voz sábia por entre os tumultos, com quem aprendi (há já longos anos) que a coragem e o carácter são porventura mais fundamentais do que tudo o resto, mesmo o talento. Espero que não te tenhas desiludido, querido Rogério.
Finalmente, o mais importante. Despedir-me de si. Agradecer-lhe a confiança por ter apostado em A Capital, um pacto que este jornal fará por manter. Muitas vezes, talvez não tenha concordado com a linha do jornal ou com as minhas opiniões, mas tudo o que fiz foi por convicção.
Até sempre.
Luís Osório
Ex-director de a A CAPITAL
Editorial de 30 de Julho de 2005
P.S. - Até sempre, camarada!
P.S.1 - É estranho definir o que se sente neste momento. Mais que as palavras, o silêncio e a introspecção é a melhor forma de o fazer!
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