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terça-feira, fevereiro 28, 2006

Para quem gosta de poesia...

Um dos meus poemas favotitos...

DOBRE

Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão

Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

Fernando Pessoa, 1913

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Marcelo na ESTA

O que foi digno de registo, foi o modelo da "conversa", em formato entrevista, com direito a realização e tudo. Não tive oportunidade de assistir in loco
pois a sala estava esgotada, mas vi pelas televisões. Esta malta já dá uns toques nisto. Fizeram um cenário, fizeram uma entrada para a entrevista, havia televisores a mostrar outras imagens, foi uma "conversa com Marcelo" à escala da ESTA. Foi bom de ver acreditem.
Fica aqui uma foto p terem uma ideia do que falo.
Beijinhos e abraços

terça-feira, fevereiro 21, 2006

A ERC

Para quem achava que o fim da AACS era uma utopia, é com enorme orgulho que informo que tomou ontem posse o conselho regulador da ERC, entidade reguladora para a comunicação social; vista pela maioria como uma salvação, uma vez que a AACS não passava de uma entidade teórica, não aplicando na prática qualquer tipo de sanção aos prevaricadores.

Mas estas são as boas notícias, porque as más não tardaram a surgir... Mais uma vez o nosso Governo surge como "aproveitador" e imaginem lá o que inventaram agora!!!???
Pois bem o Governo prepara-se para aplicar uma taxa de regulação e supervisão, taxa esta aplicada à imprensa, para o perfeito funcionamento da ERC.

É de conhecimento geral que os meios de comunicação social no nosso país têm vindo a ser hostilizados, nos últimos meses, de forma consitente, numa tentativa de condicionar e onerar a sua actividade, que tem vindo a ser agravada por uma conjuntura económica que não é, nem pode ser, considerada favorável ao seu crescimento.

A verdade é que não se percebe afinal o que quer o Governo com tudo isto. Então vejamos: pela primeira vez desde 1820 (data em que surgem as primeiras leis de regulação da imprensa) é pedido o pagamento de uma taxa para que uma entidade administrativa se financie numa actividade que passa por "assegurar o livre exercício do direito à informação e à liberdade de imprensa; velar pela não concentração da titularidade das entidades que prosseguem actividades de comunicação social com vista à salvaguarda do pluralismo e da diversidade; garantir a efectiva expressão e o confronto das correntes de opinião, em respeito pelo princípio do pluralismo e pela linha editorial de cada órgão de comunicação; proceder à classificação dos órgãos de comunicação social"; o que sem dúvida alguma contraria o artigo 38º nº2 c) da CRP, que diz que "a liberdade de imprensa implica p direito de fundação de jornais e publicações, independentemente de autorização administrativa, caução ou habilitação prévias".
Lembrando que tal prática nunca foi imposta antes, excepto no tempo da inquisição e de Marques de Pombal.

Assim qualquer taxa que seja paga para a regulação, a adicionar às outras já anunciadas, como a da publicidade, diminuirá a capacidade de contribuição das empresas para qq sistema de auto-regulação; Contribuindo para o fecho de muitos jornais regionais, com poucos recursos económicos.

Ainda de referir que esta nova entidade pouca informação se lhe conhece, imergindo sempre a dúvida se de facto ela funcionará, ou se se manterá na sombra como na AACS.

Desta forma espera-se que o governo reflicta sobre o estado da imprensa em Portugal e pondere se é grande a necessidade de impôr mais uma taxa!!!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

ainda os parvos dos cartoons



E agora o Irão retaliou com um concurso de cartoons do Holocausto. Uma das imagens mostradas nos vários media foi esta que aqui aparece em baixo. Foi dito e escrito sobre isto: "Auschwitz 1942, um judeu que transporta uma trouxa e tem na roupa uma estrela de David, entra num campo de concentração através de um portão que diz “o trabalho liberta”."
Ora, a parte caricaturada é apenas o judeu com a roupa, porque a parte entre aspas e a negrito, na versão escrita, e com ênfase na versão oral, é nada mais nada menos que a infame frase que ainda hoje coroa a entrada de Auscwitz traduzida. A saber, no original: Arbeit Macht Frei



Isto é desinformação. Se o cartoon não teve efeito directo, os comentários aos mesmos têm, tranformando como ofensa do caricaturista (=islão) a única parte real e factual do desenho, que não é invenção, nem tem o objectivo de ridicularizar. Porque isso fizeram os nazis quando o escreveram da primeira vez.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Os «cartoons» da discórdia!

Claro que a Dinamarca não tem culpa. É uma democracia, o seu governo não controla nem censura jornais e pratica liberrimamente o direito de livre expressão. Por isso, merecia plenamente ser apoiada pelos estados democráticos, merecia especialmente ser amparada pelos países confrades da União Europeia e devia ser ressarcida pelos prejuízos e danos sofridos pelos seus cidadãos no país e no estrangeiro.
Por outro lado, manda a justiça e o bom senso que se refira que os povos muçulmanos também têm direito à indignação por verem as suas crenças religiosas achincalhadas e os seus valores postos a ridículo.
Quando, há bem pouco tempo, o Expresso publicou um cartoon representando o Papa João Paulo II com o nariz enfiado num preservativo, e quando há uns anos Herman José apresentou na televisão uma rábula sobre Cristo e a Última Ceia, muitos católicos manifestaram vivo repúdio e criticaram o que achavam serem excessos intoleráveis de liberdade. É evidente que não queimaram bandeiras nem atacaram representações diplomáticas porque eram de costumes brandos e de civilizações mais avançadas que estes bárbaros do Islão.
Temos, portanto, que a reacção a estes excessos de expressão e de comunicação existe quer no Ocidente cristão e civilizado, quer no Islão bruto e retrógrado. O grau de violência e de exaltada adesão a estas manifestações é que é muito diferente, num e noutro campo.
A História está repleta de tragédias e de sangue, demonstrando que o sagrado é um território de grande delicadeza e melindre e que a sua invasão gera, inevitavelmente, reacções de fúria avassaladora e de retaliações cruéis. E estas ondas de violência são invariavelmente amplificadas pelo caudilhismo político e pela psicologia das multidões.
Quando se representa numa caricatura um popular de turbante em forma de bomba a arengar uma jihad, entende-se um objectivo terreno e profano: condenar o terrorismo, apelar à paz, apresentar os suicidas como criminosos e não como mártires. Os leitores sorriem, o riso faz bem à alma, enriquece a crítica e anima o quotidiano.
Mas quando se apresenta Maomé escarnecendo dos seus fiéis e das suas práticas ou Cristo com um míssil nas mãos, atinge-se o território mais íntimo das crenças e das raízes fundadoras do ser humano.
Esta dimensão sagrada, para lá da materialidade, deve por isso ser abordada com delicadeza. Há zonas emocionais restritas, nomeadamente as da afectividade e da religiosidade, de que a pessoa humana é especialmente zelosa e que não gosta de ver expostas em público e muito menos alvo da chacota geral.
Para além desta constatação, outra se impõe: é que não há liberdades absolutas, tal como não há direitos absolutos. Sem dúvida, a liberdade é um direito humano inquestionável e a liberdade de expressão é uma condição fundamental quer para a realização pessoal quer para o progresso das nações.
Mas há o uso e o abuso. Nem tudo na vida da pessoa, ou na abordagem da personalidade, é risível e escarnecível. Há limites que qualquer um se deve auto-impor, mediante a aprendizagem e convivência cívica. A prática larga, e ainda bem, da liberdade nos países democráticos tem que coabitar, num mundo globalizado, com concepções bem mais restritivas noutras paragens.
Também há um código de conduta a cumprir nas autoestradas da expressão e da comunicação. Se esses limites não forem respeitados, o choque será inevitável: com condutores “desregulados” em sentido contrário, ou com imposições vindas de cima.
Não se veja nisto a apologia de qualquer censura do antigamente ou a defesa dum jornalismo asséptico, sem criatividade e sem humor.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Polícias e ladrões

A forma como os agentes da autoridade abordam os cidadãos diz muito da responsabilidade que têm nos muitos incidentes que acontecem. Ainda hoje, às portas de um bairro problemático de Lisboa, observei uma abordagem policial a um automóvel feita com o maior amadorismo e displicência.
Os norte-americanos há muito que aprenderam. Quando um condutor pára por ordem da polícia em circunstâncias que levantem suspeitas, os agentes saem de imediato do carro, muitas vezes de pistola em punho, e o cidadão tem de ficar no carro, imobilizado e com as mãos no volante. Tudo o que faz a partir desse momento é por ordem do agente que o aborda. Ponto final.
Há aqui alguma violação de direitos, liberdades ou garantias? Quando muito poderá haver excesso de zelo, e alguma aparato muitas vezes injustificado, mas isso raramente mata.
É certo que faltam meios, condições dignas, apoio político, autoridade e remunerações decentes para os agentes policiais que diariamente zelam pela nossa segurança, correndo risco de vida. Por isso mesmo é escusado ajudar o mundo do crime com atitudes displicentes e negligentes. É urgente mudar os procedimentos e a mentalidade das nossas polícias, em primeiro lugar para segurança dos próprios agentes, e em consequência os cidadãos. Mesmo que isso implique uma solução à norte-americana. Porque não?