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sábado, maio 14, 2005

Amigos, como dantes!

Não deixa de causar estranheza a medalha que Paulo Portas foi receber aos EUA pelas mãos de Donald Rumsfeld. Trata-se, sem dúvida, de uma condecoração importante, a Medalha para Destacados Serviços Públicos, segundo o Pentágono a mais alta condecoração atribuída a cidadãos ou estrangeiros que tenham desenvolvido «um trabalho de excepcional significado» para o Departamento da Defesa. Receberam-na, entre outros, o procônsul americano no Iraque, Paul Bremer, o cineasta Steven Spielberg e o astronauta John Glenn. Onde cabem Portas e os seus «excepcionais serviços» neste nomenclatura?
Como todas as medalhas têm de ter uma fundamentação, a de Portas refere, segundo foi noticiado pelo jornal Público, que «sob a forte liderança de Paulo Portas, as Forças Armadas portuguesas deram passos de profunda transformação para se criarem forças modernas e flexíveis que tiveram um importante papel na estabilização do Afeganistão e do Iraque». Prescindindo do resto da fundamentação, igualmente ridículo, o que sabemos é que não foram de certeza as nossas Forças Armadas «modernizadas» que ajudaram a estabilizar o Afeganistão, com um C 130 e 30 militares que chegaram tarde e depois do Afeganistão, ou melhor, Kabul, ter estabilizado.
Quanto ao Iraque, que não está estabilizado, 130 GNR estacionados durante um ano em Nassíria, a sul de Bagdade, e enviados pelo Ministério da Administração Interna de Figueiredo Lopes, sob ordens de Durão Barroso, certamente não foram os responsáveis pela «ordem e paz» iraquianas nem pelo «sucesso» das eleições, se acreditarmos nestes eufemismos.
E a tal «modernização» das Forças Armadas? Portas iniciou-a, e parecia querer comprar armamento a consórcios americanos mas, com a queda do Governo, só o negócio dos submarinos se concretizou. Como justificação para tão alta condecoração, é escasso, escassíssimo pretexto. Mais valia a Donald Rumsfeld dizer que Paulo Portas foi medalhado porque gosta dele, Rumsfeld, e porque, em toda a Europa, é o seu mais fervoroso e devotado apoiante, um admirador incondicional e acrítico da sua linha dura e dos seus métodos, um amigo para as ocasiões, que chegou a promover um jantar europeu em sua honra quando Rumsfeld começava a ser contestado pelas políticas de Guntánamo e os escândalos da sua luta antiterrorista, a culminar em Abu Ghraib.
Enfim, Portas entrou numa troca de medalhas. Deu uma a Frank Carlucci, já medalhado por Barroso meses atrás, e Carlucci, grande amigo de Rumsfeld, retribuiu a honra. Tudo bons rapazes.

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