A eleição de Cavaco Silva foi bem mais à justa do que muitos pensavam. A margem foi tão escassa, que muita gente de esquerda que se absteve deve estar arrependidíssima. Mas a questão é outra: para terem ido votar precisavam de um candidato que os motivasse.
Este sempre foi o ponto central destas presidenciais. À direita havia um candidato que mobilizava praticamente todo o seu eleitorado. À esquerda havia tentativas de réplica do eleitorado partidário e uma candidatura contra tudo e todos. Não houve acordos nem cedências, cada um levou a sua até ao fim e apenas Alegre mostrou valer mais do que diziam. É a diferença entre política e matemática. O centro-direita fez política (mesmo assim muito pouca), a esquerda fez sobretudo exercícios matemáticos. Aqui a excepção foi claramente Manuel Alegre, que arriscou, tentou romper as fronteiras ideológicas e partidárias e conseguiu isso mesmo: ter mais de um milhão e cem mil votos é um resultado fantástico. Quanto ao resto é simples: Mário Soares cometeu um erro tremendo e percebeu, finalmente, isso mesmo na noite das eleições; Louçã percebeu que não vale mais que o Bloco de Esquerda (ou melhor, até pode valer menos); Jerónimo tem razões para estar muito contente e olhar com confiança os próximos anos. José Sócrates foi o outro grande derrotado da noite. Apesar de a sua posição de primeiro-ministro não ser beliscada, percebeu-se que ele é um péssimo secretário-geral do PS: fez más escolhas nas autárquicas e fez piores escolhas nas presidenciais. E ainda fez o erro da noite ao tentar tapar o discurso de Alegre.
P.S.1 - Cavaco Silva é suficientemente inteligente para exercer um mandato sóbrio, sem grandes sobressaltos. Sabe-o melhor que ninguém porque não deve esquecer que durante dez anos em que coabitou com Soares muitas foram as forças de bloqueio que sublinhou. O «velho leão» desta vez foi mais uma força de desbloqueio que outra coisa e Cavaco nunca pensou ser tão fácil chegar a Belém. Alegre dificultou-lhe mais a vida que o ex-fundador do PS. Tem agora cinco anos para mostrar aos portugueses que em 2011 merece a reeleição.
P.S.2 - O recém eleito dono do Palácio Cor-de-rosa terá igualmente de ter cuidado com a direita e, nomeadamente, com o PSD. Foi demagógico durante toda a campanha referir-se ao PSD e ao CDS como «os partidos que me apoiam», para depois, no discurso da vitória no CCB pronunciar os nomes das máquinas que sustentaram uma campanha de milhões. Os sociais-democratas têm de arrumar a casa. Cavaco partilha semelhante opinião. Contudo, é preciso ter muito cuidado. Todos sabemos que Marques Mendes não é o líder que o professor deseja para se candidatar a S. Bento. Quem conhece Cavaco sabe que António Borges e Manuela Ferreira Leite são os nomes que o agora Presidente gostava de ver à frente do partido fundado por Sá Carneiro e Pinto Balsemão. A ex-ministra das Finanças até pode ser uma das escolhidas para integrar o futuro Conselho de Estado de Cavaco. Mas isso só prova o desejo de Cavaco de ter a sua ex-ministra por perto. Será ela o elo de ligação entre Belém e a São Caetano à Lapa. Disso ninguém duvide!
P.S. 3 - Ginga...gostei de estar contigo na noite eleitoral. Só custa começar...vai pensando nisso...
Beijinhos e abraços para todos!
Sem comentários:
Enviar um comentário