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domingo, dezembro 04, 2005

Soares e a estabilidade

O manifesto político de Soares voltou a apontar os holofotes para a questão da estabilidade. Mas Soares fez bem em mostrar que a estabilidade não se resume à maioria absoluta e às relações Belém-São Bento. Para Soares, é importante que a estabilidade seja conseguida num clima de paz social e sem exclusões. Um discurso difícil mas que é o discurso certo para Soares marcar o seu espaço.
Para Cavaco, o mais importante era mostar que não treslia os poderes presidenciais e que não ia deitar o Governo abaixo à primeira oportunidade. Para Soares, essas duas questões tinham pouca importância; o que era relevante era tentar passar a ideia de que ele (e só ele) pode conciliar a difícil accção governativa (e as medidas duras) com os protestos de corporações, sindicatos e dos portugueses em geral. A sua tese é simples: só ele é que tem condições para simultaneamente «cobrir» as decisões mais duras do Governo e negociar a paz social. E esse ponto é, de facto, importante. É, acima de tudo, o ponto que permite marcar diferenças com os outros candidatos de esquerda (que têm menos vontade de suportar as decisões do governo) e de Cavaco Silva, cuja capacidade de concertação social sempre foi pequena (salvo o célebre acordo com a UGT, que o tempo já leva). Este é o ponto mais importante do discurso de Soares. Se esta mensagem passa e, sobretudo, se é mobilizadora é outra questão. Mas é essa questão que vai ditar se há ou não uma segunda volta das presidenciais.

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