Há uns dias, quando a crise no PSD tinha o seu ponto alto com a demissão de Luís Filipe Menezes, escrevia neste blogue que chegava a hora de a São Caetano à Lapa acalmar. E que tinha chegado a hora de os sociais-democratas mais capazes esquecerem interesses pessoais e servirem o partido como tanto é necessário.
Hoje, depois de uma semana intensa, frenética e com jogos de gato e rato pelo meio — comum nas corridas à liderança «laranja» — a conclusão é triste: afinal, o PSD não aprendeu com os erros. A luta pelo poder é mais forte do que a preocupação de voltar a fazer do PSD o que sempre foi: um partido que representa verdadeiramente a direita e o centro-direita em Portugal; um partido que ainda é necessário na bipartidarização que fez a história político-partidária do pós-25 de Abril em Portugal.
Com Santana de regresso, não é líquido, a partir de agora, que o PSD recupere a matriz de credibilidade que impera. «A lebre» de Rui Rio, Manuela, tem agora, pela frente, uma luta suada e mais difícil do que se julgaria: expulsar a «má moeda». Não será fácil evitar uma eventual — e possível — vitória de Santana. Não se contesta a legitimidade do ex-primeiro-ministro em querer avançar. Depois de tudo o que se passou tem esse direito: querer ir a jogo numa luta igual (coisa que antes nunca conseguiu). Mas se Santana já fala como vencedor e ameaça, inclusivamente, «expulsar» todos os que contestarem a sua «futura liderança», a verdade é nua e crua: o «menino guerreiro» pode, de facto, vir a ganhar o PSD. A pergunta que fica é só uma: virá ele a ganhar o País? A resposta é clara: não. A caminhada eleitoral que o PS já está a fazer, discretamente, rumo a 2009, pode vir a tornar-se num passeio (ainda) mais agradável do que o Rato esperava. Se com Ferreira Leite já seria complicado derrotar o PS, com Santana, José Sócrates sabe que não precisa de Xanax para dormir.
Santana argumenta «obra feita». Na Figueira, em Lisboa, no Governo. Vitimiza-se porque Sampaio foi uma «força de bloqueio» à sua governação, enquanto o PS recuperava do escândalo «Casa Pia» e se reorganizava internamente. Não estão em causa as capacidades políticas do homem que se auto-intitula como o mais fiel herdeiro da filosofia de Sá Carneiro. Está em causa, sim, a incapacidade de não perceber que o seu «amigo» Durão lhe abriu as portas da morte política. Na política, os erros pagam-se caro e são, em muitos casos, derradeiros. Todos o sabemos. Só Santana parece querer acreditar que o País já lhe perdoou. Não o fez e em 2009, se for ele o candidato à cadeira de São Bento, os portugueses responder-lhe-ão nas urnas. Nem que seja o um milhão e meio que, alegadamente, ainda está com ele.
P.S. — Não se discutem as tendências partidárias. Mas só há salvação possível, nao no País, mas no PSD, com a linha de Manuela Ferreira Leite. Não são os nomes que estão com ela que devem contar, mas sim a matriz ideológica, as ideias e o pensamento. Que, defendo, ainda continuam a fazer todo o sentido.
P.S. 1 — Não sou militante, nem simpatizante muito menos apoiante de nenhum partido em Portugal. Sou apenas uma mera cidadã que venera uma área que neste País está a definhar, lenta e dolorosamente.